Na Palma da Mão

2023 ‧ Crime ‧ 1h 57m – Na paima da mão

Filme da Netflix faz critica da relação dos seres humanos com as redes sociais!

“Na Palma da Mão” é um filme sul-coreano dirigido por Kim Tae-joon que conta a história de um hacker-serial-killer frio, inteligente e cruel, capaz de fazer horrores sem emitir uma palavra. O vilão é um personagem muito promissor e tem potencial para ser o destaque do filme, mas o entorno da trama não é capaz de acompanhar o nível do antagonista.

O enredo apresenta uma proposta interessante que relaciona a figura do sociopata com a nossa dependência das redes sociais. O hacker-serial-killer parece ser uma resposta do mundo para a nossa doentia relação com as redes sociais, moldado para reagir de forma aterrorizante a todas as nossas dificuldades de articular uma vida offline em tempos de Instagram e Twitter.

Trailer

No entanto, apesar da proposta interessante, o desenvolvimento do filme deixa a desejar. A protagonista, seus amigos, familiares e os policiais responsáveis pela investigação pouco contribuem para o desenvolvimento das ideias e, principalmente, dos gêneros. O longa parece ser um exercício de retrato de arquétipos do terror, mas pouco propõe com esses arquétipos. As relações familiares e profissionais existem para gerar alguma tensão, mas pouco se relacionam com o vilão.

Um ponto peculiar do filme é que nunca testemunhamos os atos torpes e violentos do vilão, o que é interessante por não abraçar a violência como caminho fácil. No entanto, essa escolha acaba por fazer com que o espectador não sinta uma ameaça real em torno da protagonista até os momentos derradeiros do filme. O diretor Kim Tae-joon elimina qualquer suspense de sua narrativa, apresentando um longa bastante direto em seu impacto. De antemão, já sabemos quem é o vilão e quem é a mocinha e como tudo se desenrolará, mas praticamente nenhuma nuance é desenvolvida a partir disso.

As tensões são sempre simplificadas, e se de positivo podemos enaltecer a atuação de Yim Si-wan, que se diverte como o vilão (não tão) sádico que interpreta, de negativo há de se destacar a falta de um trabalho mais apurado como cinema para que as pequenas tensões se juntem em um grande evento. Todo o enorme clímax do filme existe como um evento autossuficiente, isolado em si: uma típica situação de sequestro e resgate que pouco se amarra com as discussões previamente propostas.

O filme negligencia os mistérios e tensões, e acaba por demonstrar mais interesse de seu diretor em discutir a fragilidade de uma vida construída a partir da nossa relação com a internet e, mais especificamente, as redes sociais. Isso, porém, pouco se reflete na narrativa, já que quase tudo de relevante no filme acontece offline em momentos um tanto quanto genéricos de suspense, drama e terror. Falta associar mais a vida online com os problemas de privacidade, segurança e saúde mental propostos pelo filme.

“Na Palma da Mão” é o caso clássico de um filme que acredita ter uma “mensagem” tão edificante, que se esquece de que ela precisa existir em um filme, ou seja, ela precisa ser transmitida através dos recursos cinematográficos, como enquadramentos, iluminação, montagem, som, etc. Infelizmente, o diretor não consegue desenvolver essa mensagem de maneira satisfatória, deixando o espectador com a sensação de que algo importante ficou faltando.

Apesar dos pontos negativos, o longa apresenta uma atuação competente do ator Yim Si-wan, que interpreta o vilão. Seu personagem é a parte mais interessante e desenvolvida do filme, ainda que acabe se tornando um tanto previsível no decorrer da história. A ideia de explorar a relação entre a vida online e offline também é interessante, mas infelizmente, a abordagem do diretor é simplista e pouco desenvolvida.

No final, “Na Palma da Mão” é um filme que pode ser assistido sem grandes expectativas, e que pode proporcionar alguns momentos de entretenimento, mas que, infelizmente, não consegue transmitir sua mensagem de maneira eficaz, nem cativar o espectador com um enredo envolvente e bem desenvolvido. É um filme que poderia ter sido melhor, mas que acaba sendo apenas mediano.

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